Frei Betto: Como sonegar e culpar a Previdência
Frei Betto, em sua reflexão sobre o debate de tributação e gastos previdenciários no Brasil, traz à tona as contradições presentes no sistema tributário e nas políticas fiscais do país. Ele critica a facilidade com que grandes empresas e empresários conseguem sonegar impostos e, posteriormente, renegociar suas dívidas através de programas como o Refis (Programa de Recuperação Fiscal), o qual ele descreve como um processo recorrente de concessões generosas que beneficiam os mais ricos, enquanto a classe trabalhadora e os cidadãos comuns arcam com o ônus.
Betto observa que o governo brasileiro acumula cerca de R$ 300 bilhões em impostos atrasados, mas grande parte dessa dívida é perdoada ou renegociada em termos extremamente vantajosos para os devedores, principalmente empresas. Ele ressalta que essa prática resulta em menos investimentos públicos em áreas cruciais como saúde, educação e infraestrutura, afetando diretamente a população mais vulnerável. A crítica de Betto é contundente ao apontar que, enquanto pessoas físicas são tratadas com rigor pela Receita Federal, pessoas jurídicas têm o privilégio de ver suas dívidas sendo adiadas, perdoadas ou renegociadas.
O caso do Refis, exemplificado pelo deputado Newton Cardoso Júnior, é apresentado como um símbolo da corrupção sistêmica e da conivência entre políticos e empresários endividados. Segundo Frei Betto, ao reduzir drasticamente o valor esperado do Refis, o deputado não apenas beneficia seus interesses pessoais, mas também prejudica o erário público, criando um déficit que acaba sendo repassado para a população.
Outro ponto relevante abordado por Betto é o aumento de impostos sobre combustíveis e o corte de investimentos públicos como formas de “compensar” as perdas causadas pelas isenções fiscais e pelos perdões de dívidas. Ele critica duramente a incoerência de um governo que, ao mesmo tempo em que reduz a alíquota de impostos para grandes produtores rurais e beneficia elites empresariais, corta recursos fundamentais de áreas sociais e onera a população com impostos mais altos.
A análise de Betto vai além das questões tributárias e também toca na proposta de reforma da Previdência, que, segundo ele, é apresentada pelo governo como uma solução para o déficit previdenciário, mas que, na realidade, encobre a verdadeira causa da falta de recursos: as isenções fiscais, perdões de dívidas e a injusta estrutura tributária. Ele conclui, portanto, que não é a Previdência Social a principal culpada pela crise fiscal, mas sim as políticas fiscais que favorecem os mais ricos, deixando o restante da sociedade a pagar a conta.
Essa crítica de Frei Betto abre espaço para refletir sobre a necessidade de uma reforma tributária no Brasil, que seja mais justa e equitativa, corrigindo a regressividade do sistema e garantindo que aqueles que mais possuem contribuam de forma adequada para o bem comum.